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sábado, 21 de abril de 2012

Meu Mundo Ruiu


Meu mundo ruiu.
Misturada as gotas da chuva, estão as minhas lagrimas.
O desespero que abate sobre o meu ser, tem o poder de me descontrolar.
A dor forte em meu peito, tirando o ar, fazendo meus pensamentos se perderem nas nuvens que agora se chocam.
A poucas horas atrás, eu estava servindo ao meu Dono e Senhor. A servidão que tirava de mim, o meu mais intenso prazer e ao mesmo tempo, me fazia sentir, a mulher mais amada e cobiçada.
Ao mesmo tempo em que o chicote ardia em minhas costas, eu agradecia ao louco prazer que ele me provocava...No mesmo instante que a cane tirava gritos do meu inconsciente, minhas entranhas vibravam, umedecendo o meu sexo...Na hora que eu era possuída de forma grotesca, meu corpo deleitava-se com a fúria mais absurda e extasiante que uma cadela no cio poderia sentir.
Homem imponente, prepotente e sábio, taxativo em suas decisões...Tudo o que havia conquistado, era mérito de sua perseverança, sensatez e determinação. Tais qualidades eram o seu maior atrativo, a partir daí, vinha o Meu interesse para desvendar tudo o que ele tinha a oferecer.
Eu gradativamente fui sendo agraciada com o melhor, fui sendo presenteada com atitudes que me levavam ao topo do meu sonhar, achando ter um poder que não tinha.
Ele me comprou livros e mandou que eu começasse por Marques de Sade, A filosofia na alcova, completando com diversos acessórios e vestimentas para o meu deleite e prazer.
Eu nunca o interpelei a respeito das outras cadelas de sua masmorra e muito menos sobre a sua vida particular, pois, a minha curiosidade já havia me trazido uma série de problemas e eu aprendi a lição.
Quando ele pedia qualquer coisa que fosse, eu procurava atendê-lo da forma mais gentil, porém, quando ele mandava, algo em mim formigava, como se um calafrio percorresse minha espinha e eu corria a servi-lo.
Desta vez, o horário que ele chegou me causou estranheza, um sexto sentido me avisava para ter cuidado com palavras e atitudes e optei por me calar e aguçar meus instintos, pois, eu sabia que alguma coisa estava para acontecer.
Ele mandou que eu o despisse e o banhasse. Eu relaxei um pouco e fui tirando sua roupa e me deliciando com aquele corpo que me deixava louca. No chuveiro, ensaboava brincando e deixando-o excitadíssimo, provocando-o, me preparando para a devassidão que estava por vir.
Desta vez a relação foi suave, com pegadas fortes como sempre, palavras torpes em meus ouvidos, tapas que me descontrolavam e orgasmos alucinadores. Ele sempre intercalava entre sessões e um sexo apimentado, porém, sempre de uma satisfação indescritível.
Depois de servir o jantar, me olhando fixamente, ele soltou a bomba que me pegou de surpresa. O chão sumiu. A alegria desvaneceu e eu me perdi.
O ultimato foi posto em cima da mesa. Um contrato de locação, como se estivesse alugando um filme na locadora.Algo que desde o principio, fiz questão de deixar bem claro. Algo que fugia ao meu conceito de pudor. Algo só meu, mas, que me era de suma importância.  
Eu nunca seria negociada, eu seria sua, só sua e de mais ninguém. A minha índole é bastante egoísta e tenho minha forma única de ver, sentir e me entregar, pois, cada um tem seu jeito de ser e eu tenho o meu e ele tinha o dever e a obrigação de respeitá-lo.
Eu sou uma submissa de alma e tive a oportunidade de escolher vários homens que se denominavam Mestres. Muito tempo se passou, eu me submetendo a solidão atroz, para não correr o risco da paixão e de uma nova decepção.
Meu Dono era solteiro, de meia idade, integro e complacente. Uma pessoa compatível com tudo em relação ao meu viver. Ambos de classe média alta, ambos com nível superior, ambos com situação financeira definida, ambos cientes, de todas as regras de um relacionamento consensual, para os adeptos do sadomasoquismo.
Pausadamente ele falou, se eu fosse realmente uma submissa respeitosa ao meu Dono, eu teria que me submeter a todas as suas fantasias, sem colocar nenhum obstáculo, me colocando dentro das regras do SM e demonstrando assim, a minha posição dentre as suas servas.
A cruz e a espada, nenhuma alternativa...Ou vai ou desce...Quer ou não quer.
Impávido...Audacioso...Destemido...Assim era a sua postura, me interpelando com aquele olhar que desnudava minha alma.
Perplexa...Atônita...Estupefata...Assim eu fiquei...Não queria acreditar que estava acontecendo, mas, o contrato e a caneta estavam ali para comprovar.
Eu conhecia aquele homem, afinal, dez anos de relacionamento, as máscaras caem e a verdade vem a tona...Muito tempo de convivência para saber que, ele não voltaria atrás ao tomar uma decisão.
Levantei-me, o coração parecia que iria explodir, o nó em minha garganta não me permitia falar, a dor que acometia ao meu ser, quase impedia de controlar o meu corpo.
Meus olhos se tornaram suplicantes, antes que as lágrimas tomassem conta da minha visão...Agora era o meu Ultimato...Por minutos olhei fundo em seus olhos e pela queimação que havia em meu rosto, eu sabia que estava fervilhando de raiva, indignação, beirando a fúria.
     O pouco da lucidez que restava em mim, procurava buscar alguma coisa para me apaziguar e contornar aquela situação, porém, havia a certeza esmagadora que tudo havia chegado ao fim.
     Eu pude servi-lo fielmente durante todos estes anos, fiel na minha conduta perante os assédios que uma submissa litúrgica e determinada como eu sofria, esmerada em atendê-lo a tudo o que me pedia, objeto sexual usado sem nenhuma restrição ou pudor aos seus fetiches, companheira dos shows competitivos que tanto lhe aprazia, escudeira em suas guerras intimas, uma escrava obediente que nunca lhe faltara o respeito...Até hoje...
     Baixei a cabeça. As lágrimas começaram a pingar no chão. Humildemente levantei a cabeça e o olhei, num pedido de socorro, de compaixão, massss...Dez anos de escravidão, não valiam nada e, se não valiam nada, eu me perguntei...O que eu valho ???
     Uma raiva incontrolável apoderou-se da guerreira oculta...Ele irredutível...Eu...Agora...Uma fera de garras afiadas que tinha muito valor...Eu sabia do meu valor e me valorizava.
     Peguei o contrato e o rasguei sem cerimônias, devolvi-lhe a caneta e abri a porta da rua e ele se foi.
     Chamei o seu nome pela primeira vez e ele se voltou com um leve sorriso no canto da boca e então eu lhe disse.
     Por favor, por tudo o que mais preze nesta vida, sê, um fetiche seu teve mais valor do que a minha fiel e total servidão é sinal, que tudo aquilo que conquistou, nada significa, não serviu para lhe fazer feliz, assim como eu não o fiz.
     Da mesma forma que havia construído para mim um castelo de alegrias, da mesma forma o Senhor o demoliu, portanto, vá em paz, contando que...Não volte nunca maisssss.
     O sorriso que havia florescido naquele rosto deu lugar a melancolia...Os ombros sempre tão eretos estavam decaídos...Ele sentiu e tomou consciência da realidade inerente aos seus caprichos...Neste momento, vi seus olhos encher-se de lágrimas, massss, era tarde demais.
     Depois que ele se foi, desesperada e sem ter com quem dividir o meu tormento, me pus a correr na chuva sem destino.
     Encostei-me em uma parede e deixei as lagrimas escorrem, tentando extravasar aquele aperto no peito. Foram anos recheados de momentos inigualáveis que jamais serão esquecidos.
     Na vida tem sempre que existir fatos que massacram a nossa existência...Tantos anos para escolher um Dono de verdade e por fim, acabei por escolher um Mestre de Mentira...CMRS.

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