Meu
mundo ruiu.
Misturada
as gotas da chuva, estão as minhas lagrimas.
O
desespero que abate sobre o meu ser, tem o poder de me descontrolar.
A
dor forte em meu peito, tirando o ar, fazendo meus pensamentos se perderem nas
nuvens que agora se chocam.
A
poucas horas atrás, eu estava servindo ao meu Dono e Senhor. A servidão que
tirava de mim, o meu mais intenso prazer e ao mesmo tempo, me fazia sentir, a
mulher mais amada e cobiçada.
Ao
mesmo tempo em que o chicote ardia em minhas costas, eu agradecia ao louco
prazer que ele me provocava...No mesmo instante que a cane tirava gritos do meu
inconsciente, minhas entranhas vibravam, umedecendo o meu sexo...Na hora que eu
era possuída de forma grotesca, meu corpo deleitava-se com a fúria mais absurda
e extasiante que uma cadela no cio poderia sentir.
Homem
imponente, prepotente e sábio, taxativo em suas decisões...Tudo o que havia
conquistado, era mérito de sua perseverança, sensatez e determinação. Tais
qualidades eram o seu maior atrativo, a partir daí, vinha o Meu interesse para
desvendar tudo o que ele tinha a oferecer.
Eu
gradativamente fui sendo agraciada com o melhor, fui sendo presenteada com
atitudes que me levavam ao topo do meu sonhar, achando ter um poder que não
tinha.
Ele
me comprou livros e mandou que eu começasse por Marques de Sade, A filosofia na
alcova, completando com diversos acessórios e vestimentas para o meu deleite e
prazer.
Eu
nunca o interpelei a respeito das outras cadelas de sua masmorra e muito menos
sobre a sua vida particular, pois, a minha curiosidade já havia me trazido uma
série de problemas e eu aprendi a lição.
Quando
ele pedia qualquer coisa que fosse, eu procurava atendê-lo da forma mais gentil,
porém, quando ele mandava, algo em mim formigava, como se um calafrio
percorresse minha espinha e eu corria a servi-lo.
Desta
vez, o horário que ele chegou me causou estranheza, um sexto sentido me avisava
para ter cuidado com palavras e atitudes e optei por me calar e aguçar meus
instintos, pois, eu sabia que alguma coisa estava para acontecer.
Ele
mandou que eu o despisse e o banhasse. Eu relaxei um pouco e fui tirando sua
roupa e me deliciando com aquele corpo que me deixava louca. No chuveiro,
ensaboava brincando e deixando-o excitadíssimo, provocando-o, me preparando
para a devassidão que estava por vir.
Desta
vez a relação foi suave, com pegadas fortes como sempre, palavras torpes em
meus ouvidos, tapas que me descontrolavam e orgasmos alucinadores. Ele sempre
intercalava entre sessões e um sexo apimentado, porém, sempre de uma satisfação
indescritível.
Depois
de servir o jantar, me olhando fixamente, ele soltou a bomba que me pegou de
surpresa. O chão sumiu. A alegria desvaneceu e eu me perdi.
O
ultimato foi posto em cima da mesa. Um contrato de locação, como se estivesse
alugando um filme na locadora.Algo que desde o principio, fiz questão de deixar
bem claro. Algo que fugia ao meu conceito de pudor. Algo só meu, mas, que me
era de suma importância.
Eu
nunca seria negociada, eu seria sua, só sua e de mais ninguém. A minha índole é
bastante egoísta e tenho minha forma única de ver, sentir e me entregar, pois,
cada um tem seu jeito de ser e eu tenho o meu e ele tinha o dever e a obrigação
de respeitá-lo.
Eu
sou uma submissa de alma e tive a oportunidade de escolher vários homens que se
denominavam Mestres. Muito tempo se passou, eu me submetendo a solidão atroz,
para não correr o risco da paixão e de uma nova decepção.
Meu
Dono era solteiro, de meia idade, integro e complacente. Uma pessoa compatível
com tudo em relação ao meu viver. Ambos de classe média alta, ambos com nível
superior, ambos com situação financeira definida, ambos cientes, de todas as
regras de um relacionamento consensual, para os adeptos do sadomasoquismo.
Pausadamente
ele falou, se eu fosse realmente uma submissa respeitosa ao meu Dono, eu teria
que me submeter a todas as suas fantasias, sem colocar nenhum obstáculo, me
colocando dentro das regras do SM e demonstrando assim, a minha posição dentre
as suas servas.
A
cruz e a espada, nenhuma alternativa...Ou vai ou desce...Quer ou não quer.
Impávido...Audacioso...Destemido...Assim
era a sua postura, me interpelando com aquele olhar que desnudava minha alma.
Perplexa...Atônita...Estupefata...Assim
eu fiquei...Não queria acreditar que estava acontecendo, mas, o contrato e a
caneta estavam ali para comprovar.
Eu
conhecia aquele homem, afinal, dez anos de relacionamento, as máscaras caem e a
verdade vem a tona...Muito tempo de convivência para saber que, ele não
voltaria atrás ao tomar uma decisão.
Levantei-me,
o coração parecia que iria explodir, o nó em minha garganta não me permitia
falar, a dor que acometia ao meu ser, quase impedia de controlar o meu corpo.
Meus
olhos se tornaram suplicantes, antes que as lágrimas tomassem conta da minha
visão...Agora era o meu Ultimato...Por minutos olhei fundo em seus olhos e pela
queimação que havia em meu rosto, eu sabia que estava fervilhando de raiva,
indignação, beirando a fúria.
O pouco da lucidez que restava em mim,
procurava buscar alguma coisa para me apaziguar e contornar aquela situação,
porém, havia a certeza esmagadora que tudo havia chegado ao fim.
Eu pude servi-lo fielmente durante todos
estes anos, fiel na minha conduta perante os assédios que uma submissa
litúrgica e determinada como eu sofria, esmerada em atendê-lo a tudo o que me
pedia, objeto sexual usado sem nenhuma restrição ou pudor aos seus fetiches,
companheira dos shows competitivos que tanto lhe aprazia, escudeira em suas
guerras intimas, uma escrava obediente que nunca lhe faltara o respeito...Até
hoje...
Baixei a cabeça. As lágrimas começaram a
pingar no chão. Humildemente levantei a cabeça e o olhei, num pedido de
socorro, de compaixão, massss...Dez anos de escravidão, não valiam nada e, se
não valiam nada, eu me perguntei...O que eu valho ???
Uma raiva incontrolável apoderou-se da
guerreira oculta...Ele irredutível...Eu...Agora...Uma fera de garras afiadas
que tinha muito valor...Eu sabia do meu valor e me valorizava.
Peguei o contrato e o rasguei sem
cerimônias, devolvi-lhe a caneta e abri a porta da rua e ele se foi.
Chamei o seu nome pela primeira vez e ele
se voltou com um leve sorriso no canto da boca e então eu lhe disse.
Por favor, por tudo o que mais preze nesta
vida, sê, um fetiche seu teve mais valor do que a minha fiel e total servidão é
sinal, que tudo aquilo que conquistou, nada significa, não serviu para lhe
fazer feliz, assim como eu não o fiz.
Da mesma forma que havia construído para
mim um castelo de alegrias, da mesma forma o Senhor o demoliu, portanto, vá em
paz, contando que...Não volte nunca maisssss.
O sorriso que havia florescido naquele
rosto deu lugar a melancolia...Os ombros sempre tão eretos estavam
decaídos...Ele sentiu e tomou consciência da realidade inerente aos seus
caprichos...Neste momento, vi seus olhos encher-se de lágrimas, massss, era
tarde demais.
Depois que ele se foi, desesperada e sem
ter com quem dividir o meu tormento, me pus a correr na chuva sem destino.
Encostei-me em uma parede e deixei as
lagrimas escorrem, tentando extravasar aquele aperto no peito. Foram anos recheados
de momentos inigualáveis que jamais serão esquecidos.
Na vida tem sempre que existir fatos que massacram
a nossa existência...Tantos anos para escolher um Dono de verdade e por fim,
acabei por escolher um Mestre de Mentira...CMRS.
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